sábado, 28 de dezembro de 2013

Quando Frei Caneca foi preso pelas tropas do Império no sítio Juiz em AURORA

Gravura retratando Frei Caneca no momento da sua morte em Recife
Fazenda Santo Antonio - Aurora onde Frei Caneca acampara com sua tropa
Rio Salgado sítio Stº Antonio onde Caneca perdido atravessou por 5 vezes
Margeando o rio Caneca passou:  Caiçara/Crioulas/Stª Cruz/Várzea Redonda/Juiz
Fazenda Juiz de Aurora: local onde Caneca foi rendido e preso com os seus
Fazenda Santo Antonio - 1º local de Aurora onde Caneca se acampou
Riacho da Caiçara citado no diário de Frei Caneca como das Crioulas
Provável local onde  a tropa do major Lamenha montou acampamento no Juiz
JC e seu guia em pesquisa de  campo e mapeamento do roteiro de Caneca no sítio Juiz de Aurora-CE.

REBELDES DA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR  DE PASSAGEM POR LAVRAS E AURORA

 O movimento denominado de Confederação do Equador surgido em Pernambuco  logo ganharia  adeptos  na Paraíba e no Ceará, evidenciando a insatisfação popular diante do absolutismo do imperador D. Pedro I.


Em meados  de novembro de 1824 revoltosos da famosa  Confederação do Equador deixaram a cidade do Recife  com destino ao Sul do Ceará.  Dentre os quais, o histórico e bravo Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, um dos seus  principais idealizadores político-espiritual..
Após passar por parte do território paraibano  a tropa alcançou o Ceará pela então vila de Umari e fazenda Boa Vista  em 21 de novembro de 1824. Seguindo pela localidade de Jenipapeiro,  no dia seguinte 23 chegam à fazenda Pendência, hoje Amaniutuba, município de Lavras.
“Na pendência dormimos e passamos muito mal d’água” escreveu Frei Caneca em seu diário. 
Dia 24 a tropa pernoitou meia légua depois da então vila de São Vicente das Lavras (atual cidade de Lavras da Mangabeira). E pela manhã do dia 25 descansaram na fazenda Santo Antonio já no território de Aurora, antiga Venda. Após um pequeno fogo naquelas imediações na margem oposta do rio, conforme narra o frei,  a tropa rebelde meio que  atordoada após a refrega  buscava a referida fazenda e, praticamente ficou a andar em círculo tendo, inclusive, atravessado o rio Salgado por seis vezes, antes de finalmente encontrar o Santo Antonio onde descansaram.
No mesmo dia o frei anotara em português arcaico: “as estradas são largas, porém com outros e valles ruins para artilharia e montes famosos para a guerrilha”. Queriam eles encontrar alguma cabeça de gado para saciar a fome do grupo, mas não encontraram, de onde partiram  ao amanhecer do dia 26,  seguindo pela estrada do almocreve que margeava o Salgado em grande parte do trajeto.  Temendo encontrar inimigos, passaram por fora da vila de Venda(Aurora). 
Ansiavam os rebeldes chegar à vila de Missão Velha e de lá à cidade do Crato, onde iriam hastear a bandeira  de um Brasil independente, cuja causa era defendida pelo movimento.
Na noite do mesmo dia, dormiram no sítio Várzea Redonda há cinco léguas do Santo Antonio. Por precaução havia contornado a então vila da Venda Grande temerosos de que lá existiam inimigos à espreita. Novamente Caneca anotara em seu diário suas impressões sobre o trajeto: “As estradas sendo largas em geral, são de tudo montanhosas e pedregosas...”  
Na altura do riacho da Caiçara antes de chegarem à Várzea das Crioulas  – conforme ele – uma grande planície  cercada de caatinga e muitos arvoredos inóspitos -  ocorreu mais um confronto. Sendo que cinco inimigos foram abatidos.  Três baixas na parte da tropas de Caneca, dentre as quais do tenente Mafaldo do 1º batalhão de frente, além de mais dois feridos gravemente, incluindo um soldado que se concentrava disfarçado.
Depois das Crioulas passou com dificuldade por um corte grande, todo cheio de troncos de árvores deixados no caminho pelos inimigos para dificultar a passagem dos rebeldes, sobretudo das carroças e bois que puxavam as armas de grosso calibre.  Depois das 18h baixaram acampamento já nos limites da Várzea Redonda. De lá, por volta das 10 h da manhã do dia 27 chegaram ao sítio Juiz   - pertencente ao mosteiro dos Beneditinos de Olinda-PE. No lugar  resolveram descansar já por volta das 13 horas. Escreveu ele: “A estrada é má pelos montes e vales de que se compõem”. Chegaram todos exaustos batidos pelo cansaço da jornada e pela quase total ausência de alimentos.
Na fazenda juiz foi feita uma espécie simbólica de proclamação do movimento ao povo cearense. O próprio frei Caneca, capitaneou o tal ato cívico.
Na manhã do dia seguinte 28 de novembro, segundo consta;  o  tenente do 4º batalhão  com o subterfúgio de ir vasculhar a região a procura de alguma cabeça de gado para alimentar as tropas, desertou. Sem gado para  saciar a fome, foram forçados a sacrificar dois bois  de cargas, justamente os responsáveis pela condução das peças de artilharia. A intenção era, na manhã do dia posterior 29 de novembro continuar a  marcha com destino à vila de Missão Velha onde, esperavam conseguir ajuda e comida junto aos simpatizantes daquela freguesia. E de lá seguiriam para à vila do Crato. 
Notícias davam conta de que no Crato os chamados legalistas do império tinham hasteado a bandeira de Portugal e retirado o estandarte brasileiro defendido pelos  confederados. O que conforme Caneca, seria o primeiro ato a fazer no Crato, combater a tropa do império e, na sequência fazer a reposição em ato público da bandeira genuinamente brasileira.
Retrato à óleo de Frei Caneca
No entanto,  ainda no Juiz da Aurora por volta das 4 horas da tarde foi  visto no alto do morro pela  retaguarda muita gente, tanto  a pé quanto a cavalo. O que logo se descobriu se tratar das tropas do imperador, ou seja, seus inimigos. Sem perda de tempo, assinalou Caneca no seu diário,  o comandante da artilharia José Maria Ildefonso  logo pôs todos em posição de combate, fazendo, inclusive os primeiros disparos de fuzil.
De repente, para a surpresa de todos, os inimigos desfraldaram uma bandeira parlamentar. Baixaram a guarda em sinal de paz. Um emissário portando uma carta foi enviado pelo  major Lamenha, comandante das tropas inimigas. Na sua missiva, Lamenha aconselhava os revoltosos  a pôr um fim ao combate. Prometendo por seu turno,  o perdão do imperador para com os confederados. Frei Caneca não quis capitular, primeiro por uma questão de princípios e idealismo pátrio. Depois, por não acreditar naquela promessa. Não confiara no tal perdão imperial. Mas teve que seguir a maioria dos revoltosos, seus amigos. Notadamente após, como ele mesmo denominaria de um fato “indigno” do comandante  do 1º batalhão João de Deus  que, antes mesmo da decisão  conjunta da sua tropa, passou em ato continuo para o lado inimigo. Rendidos, todos foram em seguida para o acampamento do major no lado oposto do serrote.
Após o ocorrido,  na mesma tarde  deixariam o acampamento na condição de prisioneiros. Conduzidos de volta sob a escolta dos defensores do império. Tendo dormidos maias à frente na Várzea das Crioulas. Na manhã do dia 30 de novembro,  os prisioneiros chegaram por volta do meio-dia à vila de São Vicente há seis léguas de distância, onde pernoitaram e de lá seguiram na tarde do dia 1º de dezembro de volta ao Recife.  
Na capital de Pernambuco ‘um tribunal assassino’ comandado pelo general Fco. de Lima e Silva - pai do Duque de Caxias condenou à morte cerca de onze revoltosos, sendo Frei Caneca o 1º a ser assassinado. Não fora enforcada como determinava o veredicto, ante a recusa dos carrascos. Terminou sendo fuzilado por um dos soldados da tropa imperial.
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FILME-DOCUMENTÁRIO SOBRE A PASSAGEM E PRISÃO DE FREI CANECA
PELA REGIÃO DE LAVRAS E AURORA, SERÁ PRODUZIDO NO COMEÇO DE 2014, AFIRMA SECRETÁRIA DE CULTURA DE LAVRAS:
Para resgatar toda esta saga relacionada a bravura do mártir Frei Caneca. Além da sua passagem por  Lavras e a sua prisão  ocorrida no sítio Juiz de Aurora é que estão sendo ultimados os preparativos  com vistas a produção do filme-documentário que terá como narrador o Dr. Dimas Macedo, filho ilustre de Lavras. A notícia nos foi repassada pela própria secretária de cultura daquele município – Cristina Couto, durante conversação com o este secretário.

Pesquisa de campo e mapeamento do itinerário de Frei Caneca e seu amigos em solo aurorense
Com o propósito de contribuir com o tal projeto é que estivemos durante nos últimos dois dias(quinta e sexta-feira)26 e 27 de dezembro) numa pesquisa de campo nos sítio: Santo Antonio, Calumbi, Caiçara, Crioulas, Várzea Redonda e  Juiz  - itinerários percorridos  por Frei Canecas e seus aliados dentro do território de Aurora em novembro de 1824, quando finalmente foi rendido no sítio Juiz.
Sem dúvida, uma importante iniciativa que objetiva, dentre outras coisas, resgatar e difundir junto à população grandes momentos da nossa verdadeira história. Fatos e acontecimentos realmente emblemáticos que, curiosamente,  a chamada história oficial durante muito tempo tentou em vão esconder das novas gerações.
A prefeitura de Aurora por intermédio da sua secretaria de cultura e turismo também apoia este grande projeto audiovisual que será  muito útil à preservação da memória história da nossa região, do Ceará e do país.  
Uma iniciativa das mais significativas e pioneiras da pasta lavrense para que se possa efetivamente reescrever nossa verdadeira história. Não apenas aquela escrita pela pena dos vencedores, mas, sobretudo,  pelos oprimidos.
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Por José Cícero -
Secretário de Cultura e Turismo
Aurora - CE.

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(*) Com base  nas informações contidas no Livro Diário de Frei Caneca.
Fotos: JC, Jean Charles e Adriano de Sousa Anão. - Secult-Aurora.

3 comentários:

Roserlândio disse...

Parabéns pelo texto. Muito bem elaborado e esclarecedor sobre os fatos.

Academia de Ciências Sociais do Estado do Ceará disse...

Amigo, José Cicero.
Sua colaboração é valiosa e de fundamental importância para o documentário. Parabéns pelo trabalho.
Grata.
Cristina Couto

Vanilda disse...

Realmente um sucesso! Este e todos os outros,foram escritos com grande precisão, onde o leitor revive a própria história e alcança a verdadeira informação do acontecimento.
Parabéns Sr. José Cícero por toda sua dedicação, força e sabedoria.
Sua fã aurorense.
Vanilda-São Paulo