segunda-feira, 19 de agosto de 2013

CARIRI CANGAÇO 2013: “Marica Macedo do Tipi – Sertaneja d’Aurora, matriarca do Cariri” - Por: José Cícero

Foto inédita de Marica Macedo do Tipi
Prefeito Adailton Macedo ao lado do Dr. Vicente Landim
Pracinha em frente a capela no distrito do Tipi
Aquarela do sítio Mel onde viveu o clã da matriarca do Tipi

Aurora reencontrando a sua verdadeira história durante o Cariri Cangaço 2013

Contemporânea da intrépida lavrense Fideralina Augusto Lima, Generosa Amélia da Cruz em Santana do Cariri,  além dos feitos e ações que nos remetem até mesmo à  heroína Bárbara de Alencar -  Maria da Soledade Landim – 'Marica Macedo do Tipi d’Aurora', compôs com folga de mérito e valentia o histórico quarteto  das chamadas matriarcas dos sertões caririenses.   
Nascida no século XIX ao que tudo indica no início de 1865  na Gameleira do Pau  sobre a  serra do Araripe,  região do Jamacaru (bem ao lado da fazenda  Serra do Mato do não menos famoso cel. Santana – conhecido coiteiro de Lampião)  em Missão Velha.
Filha de João Manuel da Cruz(Joca da Gameleira) e de Dona Joaquina de Sales Landim(D. Quininha). Casara pela primeira vez entre 1883-1885 na igreja de Missão Velha com José Antonio de Macedo(Cazuzinha do Tipi)  seu parente. Ambos descendentes dos “Terésios. Em 1891 o casal decidiu  morar em Aurora  comprando a propriedade do sítio Sabonete onde mais tarde se formaria a vila Tipi; local onde  fixaram residência até o fim da vida.
Informações esporádicas dão conta de que era uma mulher de gênio, determinada e de inteligência incomum para aqueles tempos. Além de ousada, perspicaz e valente, notadamente quando se tratava  de defender  posições e  os interesses do seu clã.  Mesmo numa época  em que  imperava a supremacia do sistema patriarcal que, via de regra, relegava à mulher  a uma posição social das mais subalternas.  No mais das vezes, relegada aos afazeres domésticos, conquanto  confinada à cozinha e a criação da prole.
De tal forma que, qualquer tentativa de se contrariar  o velho padrão era encarado quase como  um sacrilégio. Porém,  com Marica do Tipi, o que  até então era tido como  regra,  acabou dando lugar à exceção. Pelo menos por aquelas bandas do sertão do Ceará... E assim foi que ousou, desafiou e se impôs do seu modo particularmente austero e imperativo ao status quo vigente. 
Por sua coragem e valentia  de autêntica ‘amazonas sertaneja’, logo se tornou conhecida, influente e respeitada  por todos os quadrantes do Cariri e  região circunvizinha. Tanto que, ainda hoje alguns historiadores a denominaram de “a coronel de saia” ou simplesmente de ‘a brava sertaneja de Aurora’.
A força do seu nome, portanto foi muito além  do riacho do Tipi de onde construiu o seu  poder, que além de político era alicerçado no latifúndio, no criatório de gado,  lavoura  de milho, algodão, casa de farinha e  engenho de rapadura. Gostava de  ideias  novas e pioneiras. Como por exemplo, quando Antonio Macedo (seu filho), assumiu a prefeitura em 1919 ela ordenou que o município fosse divididos em quatro partes  no sentido de facilitar   administração. Cabendo a ela própria gerir os problemas e os interesses da região que ia do sítio Cobra, Sabonete, Mel e Tipi até à fronteira com a Paraíba. Há quem diga, que fizera  uma excelente administração.
Da casa grande, quanto   da bagaceira do eito dava ordens  aos seus comandados com  a mesma autoridade e energia dos coronéis  do seu tempo. Suas determinações, portanto, tinham verdadeira força de lei. Tornando-se, por conseguinte, uma mulher de invejável poder e respeito não somente no que tange às questões familiares, como inclusive  na política aurorense onde se pontificou por vários anos não, diretamente, mas através de filho,  parentes e aliados.
Esteve no centro de questões emblemáticas, a exemplo do chamado “fogo do Taveira” que redundou  na invasão e saque de Aurora em 1908 por mais de 600 jagunços sob o comando de Zé Inácio do Barro ante os auspícios de quase todos os coronéis da região. Ocasião em que foi deposto  por meio das balas o então intendente municipal Antonio Leite Teixeira Neto(Totonho de Monte Alegre), substituído que foi pelo fiel aliado de Marica, o cel. Cândido do Pavão. 
Um episódio que, de tão marcante e violento ainda hoje ocupa lugar de destaque tanto na crônica historiográfica, quanto nos anais da história do Cariri, do  Ceará e do Nordeste.
O  tal  “Fogo do Taveira” aconteceu  entre os dias  16 e 17 de dezembro de  1908 no sítio Taveira de Aurora, situado já nos limites de Milagres contíguo ao Barro.  Cerrado tiroteio quando foi morto o filho mais novo da matriarca - José Antonio de Macedo(Cazuza) de apenas 14 anos sendo também alvejado o proprietário da casa.  
Coincidentemente,  naquele mesmo dia fatídico e  na mesma ribeira, acontecia a  polêmica demarcação das célebres  minas do Coxá pertencentes ao padre Cícero Romão Batista. Por sinal, objeto de disputa entre o sacerdote do Juazeiro e pequenos sitiantes do lugar. O que decerto, contribuiu  muito mais para o acirramento dos ânimos entre a gente do coronel Totonho de Monte Alegre, Marica Macedo, Zé Inácio do Barro e coronel Domingos Furtado de Milagres.
Sabendo disso, Marica   solicitou ajuda a Floro Bartolomeu que se encontrava nas imediações do sítio Maracajá(Pavão) liderando um  grupo de jagunços armados até os dentes. Contudo, não querendo participar diretamente do conflito, o representante do padre Cícero apenas usou do seu prestígio junto ao então governador do estado -  Nogueira Acióli que  ordenara a retira imediata do destacamento policial que dava apoio ao cel. Totonho. O que facilitou ainda mais a estratagema para  a invasão e deposição do então intendente municipal.  
Assim, o 'fogo do Taveira' representou  o verdadeiro estopim para a invasão e saque de Aurora, pela jagunçada coronelista  a mando dos maiores potentados  da região. Em cumprimento ao pedido de Marica. Como era comum  naquele tempo, todos os grandes coronéis, invariavelmente, possuíam  seus grupos particulares de jagunços e cangaceiros.
O fato predito culminou com   a deposição forçada do então intendente Cel. Antonio Leite Teixeira Neto(Totonho de Monte Alegre) que aliás, parente de Marica Macedo.  Sendo em seguida colocado em seu lugar o cel. Cândido do Pavão, por seu turno, rendeiro-mor e amigo do padre  Cícero, além aliado incondicional da matriarca do Tipi.  
Quando  viúva, casara  pela segunda vez em 1906   com o barbalhense Antonio Abel de Araújo.   Mandona e dominadora, dizem que não costumava levar desaforo pra casa. Nada acontecia na Aurora do seu tempo, quer seja  na política quanto nas questões mais comezinhas que não fosse do seu inteiro conhecimento. Influente e respeitada era de fato uma grande liderança. Ao passo que também, tinha a força de juiz, prefeito, delegado, assim como senhora de engenho e conselheira familiar. Uma mulher sertaneja que, dentre outras qualidades, se notabilizou  sobretudo por está muito além do seu tempo...  
Morreu supostamente de ataque cardíaco em 6 de janeiro de 1924 na residência de sua filha, localizada  a rua José dos Santos, na beira fresca de Aurora.
  Tema do Cariri Cangaço 2013  em Aurora:
  
Na noite do próximo dia 20 de setembro durante o seminário Cariri Cangaço 2013 em grande estilo Aurora celebrará pela terceira vez, tanto à memória quanto o resgate desta palpitante  história  protagonizada  por  Marica Macedo,  quando se comemora a passagem dos  148 anos do seu nascimento.  
A palestra ficará por conta do seu neto, o Dr. Vicente Landim de Macedo residente na capital federal e presidente de honra da AFA-Brasília*. Indubitavelmente, um momento dos mais afirmativos em que a população aurorense será convidada a conhecer um pouco mais  acerca da história de uma das mais célebres mulheres do Cariri e do Nordeste brasileiro.  
Um instante de verdadeira celebração da geração do presente  com  alguns  dos grandes acontecimentos do seu passado.  
Por fim,  um verdadeiro brinde ao resgate e a preservação da  memória histórica de Aurora, do Cariri e do Nordeste.
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Prof. José Cícero
Secretário de Cultura e Turismo.
Pesquisador do Cangaço
e Conselheiro do Cariri Cangaço.
Aurora – CE.
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Obras Consultadas:
Aurora, História e Folclore – Amarílio Gonçalves Tavares
Marica Macedo, a brava sertaneja de Aurora – Vicente Landim de Macedo.
Matriarcas do Ceará(Papéis Avulsos) – Raquel de Queiroz e Heloísa Buarque de Hollanda.
Estirpe de Santa Tereza – Joaryvar Macedo.
Venda Grande d’Aurora – João Tavares Calixto Jr.
Império do Bacamarte – Joaryvar Macedo.
Revista Aurora – jc: edição 2007.
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SERVIÇO:
SEMINÁRIO CARIRI CANGAÇO 2013! 

AURORA:

Dia 20 de setembro de 2013 
TEMA: “Marica Macedo do Tipi – Sertaneja d’Aurora, Matriarca do Cariri”.

Dr. Vicente landim de Macedo.  
Neto de Marica, Presidente de Honra da AFA-Brasília.
Secult-PMA. 
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