sábado, 4 de abril de 2009

Divagações de um velho romântico esquecido nas bibocas do mundo.




Em outros tempos quando o fantasma da tecnologia ainda não havia descaracterizado por completo a naturalidade das cousas e dos acontecimentos marcantes do nosso dia-a-dia interiorano, tínhamos por assim dizer, razões de sobra para acreditar no futuro por meio de um prisma diferente, isto é, sem este sentimento contraditório de que seria preciso abrir mão dos nossos valores. Justamente os mais importantes que ainda nos restam hoje.
Agora à medida que os anos correm levam também consigo, grandes atributos que outrora constituíam o esteio de toda uma tradição própria das gentes dos sertões. A fome insaciável desta pseudomodernidade segue destruindo sem perdão nem piedade, aspectos que dantes, nos tornavam diferentes dos que Euclides da Cunha chamava de caboclos "neurastênicos da capital”. De modo que, quase tudo o que agora existe à guisa de novidade em nossos grotões é cópia mal feita, clone mal concebido; produto de uma padronização desenfreada que não faz bem a ninguém. Uma engenharia mancomunada das elites monopolistas tramada nos porões do neoliberalismo pós-moderno com o fito exclusivo de explorar até a última gota do nosso sangue e da nossa individualidade e liberdade.
Será que estamos condenados ao que Sartre denominou de 'mau da civilização?' Será que este é o único caminho que nos resta? Será que este é de fato um caminho sem voltar. Nunca haveremos de ter/construir uma rota alternativa?
Não deve ser normal a idéia, assim como o propósito dos que nos querem transformar em parcas mercadorias. Isso não é direito querer coisificar o humano com o interesse mercadológico.Temos o dever ao menos moral de nos indignar e dizer Não a toda esta farsa: ópera bufa destes argentários de merda! Além dos velhos políticos agindo lá em cima, como se raposas fossem a pastorear nossas galinhas dos ovos de ouro.
Por isso é urgente defendermos com unhas e dentes as nossas raízes sócioculturais, assim como os nossos mais elementares direitos enquanto cidadãos. O nosso folclore, as nossas mais autênticas manifestações da cultura popular. Tudo isso nós é fundamental. São nossos referênciais históricos que ainda nos mantêm ligados de alguma forma a nossa ancestralidade. Não podemos nos transformar numa geração de teleguiados. Sem idéias, sem crenças, nem individualidades, diferenças, amor-próprio, auto-estima e até o livre-arbítrio para pensar e puder escolher o que bem nos convier. Este modelo que nos impõem já nasceu fracassado e ferido de morte em suas próprias constradições. Não serve portanto ao conjunto da sociedade.
A padronização imposta pelo capitalismo, por intermédio dos meio de comunicação de massa, sobretudo a TV é algo visivelmente contrário à natureza humana. Não podemos aceitar toda esta orquestração, calados com a indiferença dos pulsilânimes. Por que assim estaríamos sendo, no mínimo, coniventes com todo este estado de coisa apodrecida.
Por que a modernidade teima tanto em não conviver em paz, em harmonia com os nossos valores tradicionais? A quem interessa toda essa pantomima? Por que querem pôr fim as coisas maravilhosas que ajudaram no passado a cimentar o caminho do nosso presente?
Por que querem transformar as pessoas do mundo em simples consumidores. Não somos mercadorias e, tampouco meros consumidores como querem nos fazer acreditar.
Não somos retrógrados, reacionários, saudosistas, românticos, apenas por querer trilhar um caminho diferente. Nosso novo amanhã dependerá do tipo de atitude que ousamos praticar no agora. O caos social está batendo a nossa porta e não suporta mais protelações...
Sejamos romântico e daí! Utópicos, poetas, sonhadores de uma nova realidade alicerçado no chão dos nossos antigos valores ancestrais.
Queremos de voltar a arte circense como no passado, forte, respeitada e construtora de sonhos e integração nacional. Queremos o retorno do trem como um transporte por excelência popular e propulsor do progresso, mesmo que os lobistas dos transportes rodoviários não o queiram. Queremos o cinema como no passado ajudando a educar o nosso povo. O teatro de mamulengo(o Casimiro coco), o violeiro, o artista, o vaqueiro, o artesão, o professor, o caboclo do sertão; todos eles detentores do respeito nacional e da garantia de poder sobreviver dignamente por meio do seu ofício e da sua arte. Queremos extipar o fantasma do êxodo rural. Queremos uma cidade diferente, feliz, fraterna, igualitária e segura para todos. Uma educação realmente de qualidade e gratuita, construtora do saber e da cidadania popular.
Queremos a prática do respeito à natureza, à fauna à flora como incentivos para uma convivência sustentável, harmoniosa baseada na ética, no respeito e na tolerância. Ainda como exemplos sólidos de relacionamento digno, pacífico e respeitoso com todos os nossos recursos naturais, bem como da própria caatinga sertanela/nordestina. Queremos o direito de acesso à terra, sobretudo para os que nela produz e mora. Aspiramos com os punhos cerrados a reforma agrária, assim como a sociedade igualitária e coletiva dos nossos sonhos.
Queremos as noites dos sertões enluaradas embaladas pelos cânticos sorumbáticos dos penitentes da ordem santa cruz ou de outras irmandades espirituais. Queremos o ecossistema livre da ignorância, bem como do louco desejo de lucro e de poder dos homens. Queremos dá um basta ao gregarismo barato, assim como ao orgulho, o preconceito e o egocentrismo dos idiotas.
Queremos de novo nossas bibocas e nossas cidades visitadas pelas caravanas de Ciganos com suas belas mulheres coloridas, quiromantes, exímios trocadores a encher nossos dias de eternas fantasias.
Queremos de novo todo o romantismo de um passado que nos fez pensar grandes sem, no entanto, ser preciso tirar os pés do chão para se enxergar as estrelas. Porque desta forma foi que aprendemos a acreditar verdadeiramente no futuro.
Deixemos que as estrelas do céu nos vejam mais fraternos com parcimônia e inteligência, brilhando assim como todas elas.
Por: José Cícero
Aurora – CE.

2 comentários:

Unknown disse...

Caro amigo José Cicero da Silva creio que as causas pétreas do processo civilizatório de Aurora, ainda estão de pé, penso que a Secretaria de Cultura Desporto e Turismo tendo a frente o irmão José Cicero da Silva não deixará cair por terra, pelo contrário, penso numa qualificação e melhoramento que a força do tempo não conseguiu destruir e que nós auroenses deveremos lutar bravamente para preservaão.
A Saber:
Centro de Expansão da fé localizado no bairro São Benedito do campo do oleiro ao getsamani a Capela de Bom Jesus do Horto. Centro de peregrinação na Semana santa. Vigilância e oração.

Capela da Santa Popular de Aurora - Mártir Francisca, que inclusive é tese de doutourado do Abalizado Professor universitário Gilmar de Carvalho UFC.

Os penitentes de Aurora tema de mestrado do jornalista do Diário do nordeste Dr. Dellano Rios.

A Bailarina - Central relógio de encontro entre o rei do cangaço e os penitentes sítio carro quebrado

Braúna Santa alertai itinerante onde foi entronizado na ordem santa cruz o irmão virgulino Ferreira. Comhecido como o rei do cangaço. Sítio Martins, miseré sítio ipueiras. 27 de junho,1927.
Falta a placa histórica, porém o local está preservado.

O Geopark massalina viva, que teve como um dos estudiosos Januário Antonio de Macedo.

Casarão do Fundador de Aurora Cel Francisco Xavier de Sousa, 1831 ainda dá para preservar.

Cruzeiro mor da ordem Santa Cruz postado no inicio do Olho dàgua- Ao lado da estátua de Padre Cicero Romão Batista colocada pelo Ilustre filho de Aurora o juiz de Direito Dr. Evaldo Leite Gonçalves

Casa de Veraneio de Padre Cicero, residência oficial de Cândido Ribeiro Campos e a capela de cotinha.

Túmulo da filha do Coronel Francisco Xavier de Sousa localizado no {tunga} na propriedade do Sr Vila Gonçalves que quando vivo deixou o registro para a história viva de Aurora Coferir revista aurora 2º edição.

Creio que com a consulta ao Dr. Paulo Napoleão Quezado e ao Dr Francisco Tarcisio Leite se consegue um selo municipal de preservação histórica de caráter simbólico, que poderá ter o aval do parlamento mirim de Aurora.
Creio que estas pautas e muitas outras estão na ordem do dia e sei perfeitamente que você como secretário Municipal de cultura e turismo fará o possível e o impossível para tombar este manacial imaterial de valor histórico eclesiástivo compativel com a nossa fé no padroeiro de Aurora O Menino Deus.
Tenho certeza que, com estas realizações e outras nós estaremos livre da besta fera louca da modernidade e destuição do nosso processo cultural tão bem elaborado a luz dos santuários e no rosários de nossas resadeiras na luta constante pela preservação do nosso patrimônio.
Muitos são chamados e poucos são os escolhidos e com certeza você foi um dos escolhidos para a restatauração da messe do senhor na terra do Menino Deus.

José Cícero disse...

À Guisa de Resposta ao nosso colaborardor Luz Domingos de Luna:
Amigo e confrade Luiz Domingos,
A priori mui grato pelos elogios sempre dispensado a minha pessoa, creio que não mereço tanto. Tanto assim, diria que é apenas reflexo da sua bondade incomensurável para comigo.
Com relação ao seu registro preservacionista do nosso rico patrimônio histório material/imaterial, como pode ver tudo o que vc enumera na missiva em epígrafe está devidamente contida nas minhas/nossas resportagens dantes publicadas de maneira até esmiuçada nas reportagens especiais das duas edições da nossa querida REVISTA AURORA. E que portanto, compõem o universo das minhas preocupações,naturalmente, assim como o rol dos projetos e iniciativas deverasmente inseridos na pauta da "nossa" Secretaria de CULTURA, TURISMO E DESPORTO(Seculte-Aurora).
Iniciativas que inclusive, a partir de então precisarão, decerto da vossa participação e empenho. Assim como de todos os artistas e demais agentes culturais da terra do Menino Deus e de Serra Azul. De tal sorte, que estaremos juntos nesta luta árdua, continuada em prol da cultura e da defesa, resgate e preservação da memória e do rico patrimônio aurorense.
Saudações Culturais e literárias.
Abraços salgadianos,
Seu amigo e camarada Prof. José Cícero
Seculte/Aurora